terça-feira, 5 de outubro de 2010

Na mesma semana, um turbilhão de descobertas


Na mesma semana, um turbilhão de descobertas


Uma menina como qualquer outra. Carolina Gavino, 23 anos, tinha uma rotina normal para uma moça de 18 anos. Em 2005, ela apenas estudava. Cursava o terceiro período de jornalismo no Mackenzie, faculdade conhecida no Estado de São Paulo. Ela acordava tarde se arrumava vaidosa para seus estudos e voltava para sua casa, seu quarto. Suas amigas costumavam brincar com seu visível ócio.
A preguiça era uma característica. A jovem se sentia muito cansada sempre. Por vezes, já à noitinha, tirava um cochilo no ônibus, na volta para casa. Carol desconfiava que tinha algum tipo de patologia, já que, sentia muitas dores nos ossos da bacia. Não dava muita importância, achava que era algum tipo de problema ortopédico. Como a maioria das adolescentes da sua idade, era um pouco rebelde. “Um dia, tinha brigado com minha mãe e estava muito nervosa. Tomei um comprimido de calmante e fui deitar.” Acordou no meio da noite com tanta dor que precisou da ajuda de Fábio, seu pai, para caminhar. Na mesma noite foram para o hospital. Carol ainda tonta por conta do comprimido estava confusa e não imaginava a gravidade do problema. Talvez por “ajuda divina”, como ela mesma disse, o médico pediu um hemograma completo – após colher o sangue do paciente é feita uma análise completa para conferir o nível de plaquetas e qualidade das células – que foi feito na mesma hora.
Não é muito comum médicos plantonistas solicitarem em um atendimento emergencial um hemograma. Por esse motivo, Carol até pensou que poderia estar com HIV. Nesse momento, não entendia o que estava acontecendo e “Sentia que o chão estava se abrindo sob meus pés.”
Fábio ficou transtornado e pensou logo em ligar para seu irmão Luiz, que é médico. No início da conversa Luiz desconfiou e pediu que eles fossem até seu consultório para fazer um exame mais preciso. Carol foi submetida a um mielograma, um exame que retira uma pequena quantidade de sangue do osso da bacia, onde é “fabricado” todo sangue do organismo. Segundo Carol, “Dói muito, é o pior exame que eu já fiz.” Ao longo do tratamento esse exame foi repetido algumas vezes.

O diagnóstico

“Quando saiu o resultado do exame, o meu sangue estava com 92% de células cancerosas...Fui diagnosticada com leucemia.” A leucemia é uma deficiência do sangue em fabricar plaquetas. A característica orgânica da doença é a proliferação anormal de células na medula óssea – onde se origina o sangue – o que pode acabar por suprimir a produção de células normais. Ocasionando, popularmente falando, um sangue mais ralo, aguado e fora dos padrões saudáveis.
Ainda no hospital, a primeira coisa que Carol ouviu foi que teria que interromper seus círculos sociais e passar muito tempo no hospital, parar a faculdade, fazer quimioterapia. Foi um baque e tanto: “No começo assusta, mas aos poucos, a gente vai se acostumando com as rotinas do hospital.”
Seu pai ficou forte, mas sua mãe não reagiu bem. Márcia já passava por problemas psicológicos e nesse período desabou e entrou em parafuso. Em meio ao turbilhão de “novidades”, Carol ainda não tinha conseguido falar com seu namorado. Quando finalmente consegui, apenas choraram muito e “não sabíamos o que fazer. Ele é meu grande amor!”

Com o passar do tempo, Carol foi transferida para um dos mais respeitados hospitais de São Paulo, o Samaritano. Novamente a jovem fala em Deus: “Percebi nessa hora que existia um Deus maior”.
A primeira seção de quimioterapia foi avassaladora. A jovem sentia uma dor no corpo como se estivesse com uma forte virose. O corpo triturado, sem apetite, enjoos e diarreias. A humilhação e vergonha levou a adolescente ao fundo do poço. As seções de radiação deixavam marcas inesquecíveis na garota vaidosa que sempre se maquiava durante toda a “temporada” de hospital. Até quando as enfermeiras a ajudavam durante as crises, Carol sentia-se muito envergonhada em depender de outras pessoas para ir ao banheiro. Com o tempo se acostumou e gentilmente agradecia a ajuda, não mais se envergonhava.
Após algumas seções do tratamento radioativo, seus cabelos começaram a cair. “Todos os pelos do corpo caem.” Quis logo cortar o cabelo logo na primeira semana. Durante o banho percebeu que seus cabelos caíam aos tufos. Sua mãe tratou de comprar vários lenços para amarrar na cabeça, e mesmo no hospital, Carol não deixou de se arrumar. Estava sempre para cima com lenços à mão e maquiagem na cabeceira da cama.

As temporadas no hospital chegavam até 20 dias corridos e apenas uma semana em casa. Seu namorado, hoje marido, estava sempre ao seu lado. Contava dia após dia que a semana passasse logo, para no final de semana, visita-la. O pai de Carol não permitia que eles dormissem juntos. “Ficava só esperando minha imunidade aumentar para poder beijá-lo.” O tratamento durou sete meses de abril até novembro de 2005.

A cura, a vida, o futuro

No dia de sua alta, feriado de proclamação da República, Carol também se emancipou daquela rotina. Sentia-se preparada e madura para enfrentar o futuro. Tratou logo de ser feliz. Queria ser mãe, casar, estava pronta. Seu pai parecia uma criança feliz. Alguns meses depois da alta, em março, engravidou. “Não era hora ainda, havia cinco meses do término do tratamento.” A gravidez foi tranquila e o parto, normal como ela pretendia. Quando Daniel estava com dez meses Marcos e Carol se casaram na Igreja. Concluiu a faculdade de Jornalismo em 2009.  Hoje trabalha em uma empresa de comunicação. Cuida do seu filho, da sua casa e de seu marido. Segue sua vida ultrapassando limites, contando suas mazelas como forma de lembrar de uma passado distante, vivendo o presente e esperando o futuro.





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